ForrageirasGestãoManejoMercadoNutriçãoSustentabilidade

PASTAGENS DE INVERNO NECESSITAM DE ADUBAÇÃO?

By 7 de agosto de 2023 No Comments

Dentre as principais forrageiras utilizadas como pastagens de inverno no sul do Brasil temos a aveia e o azevém. Duas espécies de gramíneas que são altamente responsivas a adubação. Porém, quando percorremos as estradas pelo interior do RS, para todas as direções visualizamos áreas com pastagens com baixa oferta forrageira e com estrutura e coloração indicativas de carência nutricional, ou seja, pastagem pouco ou nada adubadas.

Na maioria das vezes, em sistemas de integração lavoura-pecuária, a colheitadeira está saindo por uma porteira e os animais estão entrando pela outra, sem respeitar as alturas ideais de pastejo e a necessidade de adubação das culturas conforme recomendação a partir das análises de solo.

Avaliando a fertilidade natural dos solos do Rio Grande do Sul sabemos que nossos solos, na sua origem, são ácidos, pobres em fósforo, com baixo teor de matéria orgânica (em sua maioria) e com teores de potássio de médios a altos, com exceção de solos arenosos, que normalmente possuem teor de potássio médios a baixos. Esta avaliação se dá a partir da coleta de amostras de solo e encaminhamento ao laboratório que irá emitir um laudo de avalição da fertilidade deste solo.

A acidez dos solos é de extrema importância quando pensamos em intensificação dos sistemas de produção. Normalmente, na condição de acidez dos solos, temos a presença do elemento químico alumínio. Este elemento é responsável pela fixação do fósforo e também pela toxidez às raízes das plantas. No caso da fixação do fósforo pelo alumínio um estudo da Embrapa mostra que com pH entre 4,5 e 5,0 as plantas conseguem aproveitar ao redor de 30% do fósforo que é aplicado no solo. Além do menor aproveitamento, o alumínio, através da sua toxidez, promove a paralização do crescimento das raízes e seu engrossamento, reduzindo a capacidade que as raízes tem de absorver os nutrientes. Portanto umas das primeiras ações, pensando em aumentar a produção das forrageiras, seria a correção do pH dos solos pela adição de calcário que pode ser determinada pelo laudo de análise de solo.

O fósforo, por ser o elemento com maior deficiência nos solos do RS, deve ser adicionado no momento da implantação da pastagem ou logo após o seu nascimento. Normalmente sua necessidade varia de 80 a 100 kg de P O /ha, quando os teores deste elemento forem interpretados como baixo. Porém o elemento que mais influencia no crescimento das gramíneas é o nitrogênio (N), que está ligado diretamente ao teor de matéria orgânica do solo. Ou seja, quanto menor o teor de matéria orgânica do solo, maior a resposta das gramíneas a adubação nitrogenada. Diversos estudos mostram que adicionar 50 kg de N/ha dobra o crescimento da pastagem, quando comparado a não aplicação deste elemento.

Outra informação importante quando se fala em adubação é que além de avaliar os níveis de fertilidade individualmente, temos a necessidade de pensar no equilíbrio entre eles. De nada adianta adicionar toda a recomendação de nitrogênio e nada da recomendação de fósforo, o elemento mais limitante irá reduzir o potencial de resposta daquele que foi adicionado por completo.

Após essa breve introdução referente a adubação de pastagens e indo para exemplos práticos, nos últimos meses, nas palestras e cursos realizados para produtores rurais tenho realizado a seguinte pergunta: Como foram as pastagens de inverno em 2022?

Na maioria das vezes o produtor responde que as pastagens do ano passado foram muito ruins, devido ao excesso de chuvas, as baixas temperaturas e a pouca luminosidade e que São Pedro não ajudou. E, raramente algum produtor relata que teve boas pastagens. Após essa pergunta mostramos duas fotos tiradas no mesmo dia, 16/06/2022, no município de Cacequi/RS.

Nas duas fotos temos uma pastagem de aveia plantada em linha na mesma data, 11/04/2022, porém a primeira, após 66 dias de plantada, com cerca de 10 a 15 cm de altura, com coloração amarelada, apresentando ainda solo descoberto e longe de chegar ao ponto de pastejo com 30 cm de altura. E a segunda com 30 a 40 cm de altura, com uma coloração verde intensa, com ótima massa de forragem e iniciando o pastejo naquela data, 66 dias após a plantação. E daí vem a segunda pergunta: O que estes produtores fizeram de diferente, se as condições climáticas foram as mesmas para os dois?

O primeiro produtor, que após todo esse período, ainda não tem pastagem, não adicionou adubação de base nem nitrogênio em cobertura, enquanto que o segundo fez a adubação conforme a análise de solo, aplicando 200 kg/ha de MAP e 200 kg/ha de ureia em cobertura. Uma das reações após essa explanação é de que essa adubação é cara e não pagaria o investimento. Vamos as contas?

O ano de 2022 foi o pior ano para investirmos em adução, devido a guerra na Ucrânia, no momento do investimento em adubação de pastagens o MAP estava ao redor de R$ 6.000,00 a tonelada e a ureia ao redor de R$ 4.000,00 a tonelada. O produtor que investiu em adubação teve um desembolso total de R$ 2.600,00/ha entre semente, adubo e ureia, e uma produção de kg de peso vivo/ha ao redor de 500 kg, ou seja, R$ 5.000,00 de receita bruta, gerando uma diferença de R$ 2.400,00/ha de resultado. E a pastagem sem adubação quanto produziu? Na melhor das hipóteses 100 kg de peso vivo/ha, ao redor de R$ 1.000,00/ha.

Se pensarmos em benefícios indiretos a essa adubação, por se tratarem de áreas de integração lavoura-pecuária, ainda temos o aumento da fertilidade com a adubação de inverno, a melhora da estrutura física do solo pelo aumento da produção de raízes e a menor compactação e redução da incidência de plantas invasoras pelo aumento da cobertura de palhada da parte aérea.

Para avaliarmos estes resultados e os resultados com investimentos em pastagens de inverno não podemos pensar qual o valor gasto/ha, e sim qual o valor gasto por cabeça/dia. Como exemplo podemos trazer uma pastagem de azevém com uma despesa de R$ 940,00/ha, que chamamos de azevenzito, contra outra de R$ 1.440,00/ha que chamamos de um bom azevém. Qual a mais cara?

Se pensarmos que a primeira vamos utilizar por no máximo 90 dias, com dois terneiros/ha, temos um custo/cabeça/dia de R$ 2,76. Em contrapartida, na segunda pastagem, vamos utilizar por 150 dias com 3,5 terneiros/ha, com isso, o custo/cabeça/dia é de R$ 0,80, ou seja, a pastagem mais cara se torna a mais barata porque utilizamos por um maior período de tempo com um maior número de animais/ha.

Tabela 1. Comparação do desembolso de dois níveis de investimento de pastagem de azevém e do custo/cabeça/dia.

Azevenzito Azevém bom
Despesa total R$ 940,00 R$ 1.440,00
PRODUÇÃO
Total (Kg MS/ha) 4.700 12.500
Carga Animal (kg PV/ha) 435 694
Peso/cabeça (kg) 200 200
Cab./ha 2.18 3.47
Custo/cab./dia R$ 2,76 R$ 0,80

PARA REFLETIR

O que temos que ter em mente quando pensamos em adubação de pastagens é que primeiro, temos que ter uma boa análise de solo, sobre essa análise fazer uma recomendação de adubação conforme o nível de intensificação do sistema de produção e após, saber manejar a carga animal conforme a disponibilidade de forragem a fim de potencializar a produção de kg produzidos/ha.

 

Cristiano Costalunga Gotuzzo

GEOPLAN – Soluções em Agronegócios.

Artigo publicado na Edição 12 da Revista PecuariaSul

Fale conosco