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Você já ouviu falar em controle biológico? Uma realidade na agricultura e uma novidade na produção animal

By 5 de agosto de 2020 No Comments

O controle biológico de pragas já é uma realidade na agricultura brasileira. A crescente demanda dos consumidores por alimentos mais saudáveis, aliada à busca do produtor por soluções eficazes e sustentáveis tem gerado uma crescente adesão dessa tecnologia por produtores de todo o país. É possível encontrar uma diversidade cada vez maior de produtos de controle biológico destinados às mais diversas culturas. Trata-se de uma tecnologia em plena expansão que com o suporte de recentes pesquisas científicas tem conseguido diversificar cada vez mais as soluções para o campo.

Apesar de ser um tema muito atual, o conceito de controle biológico vem de longa data. No século III a.C., os chineses observaram que as plantações de citros que conviviam com algumas formigas (Oecophylla smaragdina) tinham menos pragas, neste caso, os besouros. Foi partindo desta análise investigativa que veio a ideia de inserir ninhos de formigas em suas plantações,ou seja, eles criaram uma das primeiras experiências de controle biológico no mundo, usando elementos já presentes na natureza. Neste exemplo, as formigas já eram predadoras e inimigas naturais do besouro e foram usadas de forma estratégica para realizar o controle.

Foi por volta de 1890 que o controle biológico teve um maior avanço em vários países. Um exemplo de sucesso desta época foi a introdução na Califórnia da joaninha (Rodolia cardinalis) vinda da Austrália, que controlou o pulgão branco (Icerya purchasi), uma praga comum na citricultura. O primeiro registro de tentativa de controlar uma praga usando fungos é de 1888. Este episódio ocorreu na Rússia, com a pulverização do fungo Metarhizium anisopliae, sobre plantações de beterraba, com a intenção de controlar um besouro (Cleonus punctiventris) comum deste cultivo.

No Brasil, a partir da década de 1970 o controle biológico de pragas passou a ganhar cada vez mais espaço. Um dos exemplos de maior sucesso é ouso do fungo M. anisopliaepara controlara cigarrinha-da-cana-de-açúcar (Mahanarva fimbriolata). Atualmente, cerca de metade de toda área produtora de cana faz uso dessa tecnologia. Um outro exemplo de muito sucesso no Brasil é o uso da bactéria Bacillus thuringiensis (conhecido por Bt) para o controle da Helicoverpa armigera, uma as principais pragas da produção de soja. As bactérias (eesporos) são aplicadas nas plantações e produzem uma proteína tóxica para os insetos.

Nos últimos anos, o uso comprovadamente eficaz desses inimigos naturais para o controle de pragas abriu portas para o surgimento de diversos produtos comerciais de controle biológico, a maioria baseada no uso de microrganismos. A bactéria B. thuringiensis e os fungos M.anisopliae e Beauveria bassiana são os agentes mais usados nos mais de 260 produtos de controle biológico atualmente registrados para uso na agricultura no Brasil.

Uma realidade na agricultura,o controle biológico tem ganhado cada vez mais espaço também na pecuária. Neste segmento, a principal aplicação dessa tecnologia é focada no tratamento das pastagens. O fungo Metarhizium anisopliae vem sendo usado contra uma das principais pragas desta cultura, a cigarrinha-das-pastagens. Este é um inseto que suga a seiva da planta e também injeta substâncias tóxicas em seu tecido vegetal, resultando em perda de pasto e consequentemente perda de peso dos animais.

Além do controle da cigarrinha das pastagens, uma nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores da startup Decoy traz um novo aliado para o segmento de produção animal.

Situada em Ribeirão Preto a startup é especializada em controle biológico de pragas e desenvolveu uma tecnologia para controle do carrapato-do-boi, que é um dos maiores problemas atuais da pecuária. O tratamento se baseia no uso de fungos, que são inimigos naturais dos carrapatos. Ao entrar em contato com o carrapato, o fungo germina e se desenvolve no seu corpo, levando-o à morte. O tratamento com a tecnologia Decoy busca um controle estratégico, no qual todas as fases de vida do carrapato são atingidas, seja no pasto ou no animal, resultando em um controle mais eficiente. Além disso, por não usar compostos químicos,é uma forma de controle totalmente atóxica para os animais, para o produtor ou quem realiza a aplicação e para o meio ambiente.

Todo esse histórico e avanço no controle biológico ocorreu devido ao aumento dos estudos e do conhecimento da ecologia destas pragas, tornando possível identificar seus inimigos naturais e utilizá-los para o controle. Hoje, o controle biológico é um dos pilares do manejo integrado de pragas, que vem sendo utilizado cada vez mais na agricultura e na pecuária e está abrindo caminho para uma prática mais sustentável e produção de alimentos mais saudáveis.

 

Por Decoy Smart Control

 

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