ForrageirasInovaçãoManejoSustentabilidade

Capim-annoni – O que já sabemos e o que precisamos saber

By 2 de março de 2023 No Comments

O capim-annoni foi introduzido acidentalmente no Rio Grande do Sul como impureza de lotes de sementes de capim de Rhodes, importadas da África do Sul, na década de 50, tornando-se um dos maiores problemas ambientais na Região Sul do Brasil, com consequências extremamente negativas à pecuária. Com excelente adaptação ao clima da nossa região, sem inimigos naturais, com baixo valor nutricional e de pouca aceitação pelo gado, a planta continua seu processo de invasão de áreas, reduzindo a qualidade e a diversidade dos campos nativos do Bioma Pampa. Há estimativas de que mais de 1.000.000 ha do bioma estejam comprometidos.

Forma de Disseminação

A principal forma de dispersão do capim-annoni é por sementes. O trânsito de máquinas agrícolas, automóveis, animais (pelos, fezes, patas) e o próprio vento, ampliam a invasão.

Uma única planta pode produzir, em média, 80.000 sementes por ano. E essas, sendo pequenas, tendem a permanecer viáveis especialmente quando enterradas no solo, ficando “protegidas”. O cuidado no manejo de animais pode ser uma ferramenta importante na prevenção de áreas ainda não invadidas ou com infestações reduzidas.

Como Controlar?

A forma preventiva de controle de plantas invasoras é sempre mais fácil e mais barata. Formas integradas com diferentes estratégias tendem a ser mais eficientes do que a aplicação de práticas isoladas. Talvez, este venha sendo o erro no combate a expansão da invasora.

Um programa de manejo estabelecido tem se mostrado como a forma mais eficiente de evitar a produção de novas sementes. Estudos conduzidos pelo GENUR em parceria com a Embrapa, testaram várias alternativas que buscam combater a invasora, e verificaram que métodos como revolvimento do solo e uso do fogo, não foram eficientes em reduzir a quantidade de plantas. O uso do fogo pode prejudicar o acúmulo de matéria orgânica do solo, causando prejuízos na sua fertilidade; além de retirar a cobertura vegetal de forma a abrir mais espaço para outras plantas de capim-annoni germinarem.

Os melhores resultados foram obtidos com estratégias usadas em conjunto, sendo elas: aplicação de herbicida de forma seletiva + fertilização do solo + implantação de espécies forrageiras para aumentar a competição com o capim-annoni.

Os resultados da pesquisa validam uma estratégia que a Embrapa tem preconizado denominada de Método Integrado de Recuperação de Pastagens – Mirapasto. Esse método baseia-se em quatro pilares:

1) controle da planta invasora;

2) construção da fertilidade do solo;

3) introdução de espécies forrageiras;

4) ajuste da carga animal.

O controle do capim-annoni deve ser feito preferencialmente com a máquina Campo Limpo (Perez, 2015) que permite o uso de herbicida via cordas umedecidas e com regulagem de altura, permite que o annoni seja controlado seletivamente, sem prejudicar o campo nativo.

Para infestações menores, o modelo chamado de “enxada química” faz o mesmo controle (Perez, 2008). O importante é evitar a produção de novas sementes.

A roçadeira, embora seja implemento de uso comum em áreas de campo nativo, no caso específico do capim-annoni, em áreas com touceiras antigas, tende a causar danos no implemento, além de dependendo do estádio das plantas, ser um potencial espalhador de sementes.

SETE MANDAMENTOS

Com os conhecimentos gerados pela pesquisa, podemos reforçar a necessidade de adotar estratégias de combate e indicamos os “SETE MANDAMENTOS” do controle do capim-annoni (Perez, 2015):

1) Não revire o solo: as sementes são pequenas e geralmente têm elevada porcentagem de germinação, quanto mais profundas e enterradas, mais tempo permanecem viáveis. Ao revolver o solo, elas são trazidas para a superfície e podem germinar;

2) Não desseque toda a vegetação: ao retirar a vegetação presente, abrirá espaço para novas plantas de capim-annoni se estabelecerem;

3) Controle rigidamente os pontos de disseminação: estradas, mangueiras, paradouros, corredores e locais onde a água da chuva entra na propriedade;

4) Não transite com os animais de áreas infestadas para áreas não infestadas: 7,3% das sementes ingeridas pelos animais passam pelo trato digestivo e saem nas fezes ainda com capacidade de germinar no solo (Lisboa et al., 2009). Portanto, deixe os animais em potreiro reservado para este fim (quarentena) por, no mínimo, três dias sendo ideal 8 dias, para que não saiam mais sementes nas fezes. Esse potreiro deve ser rigidamente controlado, eliminando-se as plantas da invasora. Se você comprou animais de fora, faça o mesmo procedimento. Esta é uma estratégia muito importante e negligenciada pela maioria dos produtores;

5) Não reduza a vegetação nativa abaixo de 10 centímetros: ajuste a carga animal, pois a invasão é facilitada pela presença de alta frequência de espaços vazios, originada pelo pastejo excessivo.

A regeneração da vegetação campestre dos acostamentos viários dominados por capim-annoni, é outra prática essencial para reduzir a expansão dessa invasora, funcionando como filtro biológico contra a dispersão de sementes.

6) Prefira a aplicação seletiva de herbicida, com enxada ou roçadeira química: com este método de controle, preserva-se a diversidade vegetal da área, reduzindo a infestação da invasora.

7) Construir e manter a fertilidade do solo é fundamental: pois promove o crescimento de forrageiras desejáveis as quais competem com o annoni. É notável a vantagem de desenvolvimento de capim-annoni em áreas de solo de baixa fertilidade ou completamente degradados.

Perspectivas Futuras da Pesquisa em Controle de Capim-annoni

As práticas sugeridas acima são opções disponíveis para produtores que queiram iniciar a recuperação de áreas invadidas pelo capim-annoni e/ou adotar a prevenção em áreas ainda com infestação reduzida (manchas). É preciso um planejamento e mesmo utilizando a máquina Campo Limpo rigorosamente, não se obtém controle total da invasora rapidamente. Aí entra a importância do planejamento para que animais em trânsito na propriedade não sejam disseminadores para áreas em recuperação. Embora bovinos sejam os principais agentes na dispersão do capim-annoni, estudos evidenciaram o potencial de ovinos, equinos e até mesmo pássaros em disseminar sementes de capim-annoni após passagem de sementes pelo trato digestório destes animais.

Uma outra forma de controlar áreas infestadas por capim-annoni e que permitam conversão em lavoura, tem sido os cultivos agrícolas, como a soja. Uma dessecação previa à semeadura da lavoura é prática comum, contudo, relatos recentes de falhas nas dessecações e sobra de plantas de capim-annoni liga o alerta de que possa estar havendo seleção de plantas resistentes ao herbicida. Maiores estudos ainda estão em fase de condução, mas este é hoje o principal problema ligado ao manejo de plantas daninhas mundialmente. A prática de uso repetido do mesmo herbicida numa mesma área por muito tempo, tende a selecionar plantas resistentes e permitir que as mesmas aumentem na população.

A Biotecnologia tem permitido grandes avanços no estudo de animais e plantas. O conhecimento de genes de um organismo e sua análise nos permite entender o comportamento das espécies em determinados ambientes e com esta percepção, tem-se buscado elucidar o genoma do capim-annoni. Assim, além de entender as respostas de competitividade da invasora que fazem ela ser superior às espécies dos campos naturais, será possível utilizar técnicas inovadoras como a pulverização de moléculas biológicas que visem silenciar pontos importantes na planta, favorecendo seu controle e reduzindo sua disseminação. A pesquisa vem trabalhando para que esta seja uma realidade futura aos produtores.

Autores: 

Eduardo Bohrer de Azevedo – Professor do Departamento de Zootecnia da UFSM e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (UNIPAMPA). Coordena o Grupo de Estudos em Nutrição de Ruminantes e Equinos (GENUR).

Fabiane Pinto Lamego – Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul e professora do Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade da UFPel. Coordena projetos no tema do capim-annoni e de plantas daninhas resistentes a herbicidas.

Revista PecuariaSul – 9ª edição – Dez22/Jan23

 

Bibliografia recomendada sobre o assunto:

FALEIRO, E.A.; CHIAPINOTTO, D.M.; LAMEGO, F.P.; SCHAEDLER, C.E.; AZEVEDO, E.B. Manejo integrado de capim-annoni (Eragrostis plana Nees): associando ferramentas do controle químico e fisiologia da planta. Ciência Rural, v.51, n.2, e20200271, 2021. Link para acesso: https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20200271

FALEIRO, E.A.; LAMEGO, F.P.; SCHAEDLER, C.E.; DEL VALLE, T.A.; AZEVEDO, E.B. Eficiência de métodos individuais e integrados no controle de capim-annoni. Ciência Rural, v.52, n.9, 20210490, 2022. Link para acesso: https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20210490

LISBOA, C.A.V.; MEDEIROS, R.B.; AZEVEDO, E.B.; PATIÑO, H.O.; CARLOTTO, S.B.; GARCIA, R.P.A. Poder germinativo de sementes de capim-annoni-2 (Eragrostis plana Ness) recuperadas em fezes de bovinos Revista Brasileira de Zootecnia. v.38, p.405–410, 2009

PEREZ, N.B. Aplicador manual de herbicida por contato: enxada química. Embrapa Pecuária Sul, 2008, 3p. (Comunicado Técnico). Link para acesso: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/63859/1/CO67.pdf

PEREZ, N.B. Método integrado de recuperação das pastagens MIRAPASTO: foco capim-annoni. Embrapa Pecuária Sul, 2015, 24p. (Folheto). Link para acesso: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1023496/metodo-integrado-de-recuperacao-de-pastagens-mirapasto-foco-capim-annoni

Fale conosco