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A Influência da Genética Angus Norte-Americana na Pecuária Brasileira

By 3 de janeiro de 2023 No Comments

O brilhante trabalho que a raça Angus vem fazendo para a evolução da pecuária brasileira e mundial se consolida a cada ano que passa. Não há como contestar que a utilização desta raça potencializa a produtividade nas fazendas de corte e também agrada, e muito, os apreciadores de carne bovina premium. Fertilidade, habilidade materna, precocidade, rusticidade, eficiência e carcaça de excelente qualidade são algumas das principais características dessa raça que é de origem Escocesa. Porém, vem dos Estados Unidos a principal genética que influencia os rebanhos e o mercado mundial da raça.

Nesse texto, que escrevemos a convite da Revista PecuariaSul, procuramos trazer um pouco das informações e imagens colhidas em nossa recente viagem aos estados de Montana e Dakota do Norte nos EUA durante o mês de junho, que teve grande importância para entendermos cada vez mais as condições em que são criados e utilizados os animais que buscamos para melhorar nossos rebanhos por aqui.

Os EUA é o país com maior importância na seleção Angus do mundo. Foi por lá que se iniciou o brilhante trabalho de formação da marca da carne angus e a sua valorização por grandes redes de varejo. Brasil, Austrália, Argentina e Uruguai também são importantes ícones mundiais na produção de carne de qualidade e difusão da raça, mas possuem influência direta da genética norte-americana. Aqui no Brasil é notória esta influência, visto que 75% das doses de Aberdeen Angus utilizadas são importadas dos EUA.

SELEÇÃO NOS EUA

A seleção de touros pela Associação Americana de Angus (American Angus Association-AAA) tem sua consistência devido ao trabalho focado no uso de dados e critérios de seleção muito claros ao longo dos anos, pela extrema valorização das fêmeas na formação do rebanho e pelo ciclo curto de produção, o que traz rapidez ao melhoramento.

Sabemos que cada criatório possui seus objetivos e critérios de seleção próprios, e além dos dados de desempenho apresentados no programa de seleção (DEPs), o fenótipo (tipo) ao olho do dono ainda possuem um grande peso na escolha dos caminhos a seguir.

Somados a isso, qualidade de carcaça, eficiência alimentar e genômica potencializam cada vez mais a consistência da seleção americana.

Vale ressaltar que aqui no Brasil estamos muito bem servidos de programas de seleção e também no trabalho da Carne Angus, muito bem desenvolvidos pela Associação Brasileira de Angus juntamente com a ANC e os programas de melhoramento Promebo e Natura.

A busca por animais eficientes, que possuem maior capacidade de converter o alimento consumido em ganho de peso, é utilizado há mais de 60 anos nos EUA. Este critério de seleção, determinado via uso elevado de tecnologia e controle individual dos animais, tem relação direta com sustentabilidade ambiental, visto que quanto melhor aproveitarmos os recursos mais preservaremos o planeta.

Da mesma forma se pensarmos em sustentabilidade econômica o mesmo também ocorre, pois é notório que com o elevado custo dos insumos a pecuária somente será viável financeiramente se tivermos animais selecionados por maior ganho com o menor consumo alimentar possível.

POTENCIAL BRASILEIRO

O Brasil possui o maior potencial para prover carne bovina ao mundo, e por aqui a raça Angus se fixou desempenhando suas habilidades de sul a norte. No sul, utilizada em rebanhos definidos e cruzados com raças europeias, enquanto no norte se consolidou como uma excelente alternativa para o cruzamento com o Nelore, raça indiana que representa mais de 80% do rebanho nacional.

O sucesso desse cruzamento se reflete nas vendas de sêmen, tornando o Aberdeen Angus (angus de pelagem preta) a raça que mais vendeu doses de sêmen nos últimos anos. Doses estas potencializadas através do uso da IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), tecnologia que se consagrou e levou o melhoramento animal aos quatro cantos do país.

A ESCOLHA CORRETA

Bom, até aqui vimos que o Angus americano possui bastante influência no Brasil e que a AAA é extremamente confiável nos dados. Então qualquer touro angus americano que eu utilizar vai dar certo no meu rebanho?

Simples resposta – não!

A escolha de um touro é um tema muito específico e delicado, cabe mais algumas páginas de conversa por aqui ou horas de mate ao redor de um fogo no molhado e frio inverno do RS. Mesmo a prova da AAA apresentando consistência e disciplina nas suas DEPs, dados de carcaça, genômica e seus distintos índices para cada proposta, há uma distinção dos criatórios americanos frente a algumas linhas de biotipo animal.

Encontrar um touro proveniente de um ambiente pastoril, com alto desempenho e eficiente em conversão alimentar, grau de marmoreio elevado, com rendimento e peso de carcaça consideráveis, touro com precocidade e capacidade de gerar boas fêmeas, produzindo novilhas precoces e vacas femininas, de porte médio, bons úberes, aprumos corretos, e que essas vacas sejam longevas e produzam um terneiro pesado por ano, no mínimo até os seus 10 ou 12 anos… sim isso é um sonho. Nenhum touro terá todas as características que buscamos. Se isso existisse, nem teria graça o tal de melhoramento genético.

No meu entendimento, existem diferentes caminhos a seguir quando pensamos em qual linha de touro Angus devemos escolher para nosso rebanho.

A pergunta que sempre faço é: O que o você busca em um touro para o seu sistema de produção?

Fazendo essa pergunta recebo várias respostas como as listadas a seguir:

– Busco um animal formador de boas fêmeas;

– Quero um touro que vai desmamar terneiros pesados para eu vender na feira;

– O boi gordo que eu vendo é precoce de 15 meses com 600kg e preciso de qualidade de carcaça e atenção no excesso de gordura da costela, frigorífico tem me reclamado disso;

– Busco um touro para vender meus tourinhos com dupla marca;

– Preciso para o cruzamento com Nelore;

– Quero fazer Beef on Dairy nas minhas holandesas inferiores;

– Meu touro tem que ser pelo baixo pois trabalho em campos sujos e carrapateados;

– Meu sistema é ciclo curto e entoure aos 12 meses;

– Preciso de um barato, tem que ser homozigoto preto e emprenhador na IATF.

Só isso? Para todas as situações acima existem diferentes linhas de touros para entregar o resultado esperado. Desta forma fica evidente que o processo para a escolha de um reprodutor necessita de extrema atenção e dedicação por parte dos pecuaristas e consultores genéticos.

Tanto para a IATF quanto para a monta natural a decisão deve ser tratada como prioridade e seriedade pois refletirá diretamente no futuro da operação pecuária.

As diferentes situações acima refletem todos os dados que conseguimos buscar na prova da AAA tanto nas DEPs quanto nos índices econômicos.

Além disso conhecer as linhagens e origem de cada animal também é importante, visto que algumas fazendas possuem tradição em formação de fêmeas, por exemplo, ao passo que outras são reconhecidas por eficiência na terminação e qualidade de carne.

Todos esses temas refletem a necessidade de planejamento na escolha de um reprodutor, e que esta escolha deve ser o mais racional possível, baseada em projetos e validada com dados. Assim, através do vasto portfólio de touros angus americanos disponíveis no mercado, conseguiremos com escolhas certas diminuir os erros ou potencializar os resultados em nossa pecuária.

O Angus norte-americano seguirá nos prestigiando com genética inovadora e produtiva, cabe a nós produtores, consultores e influenciadores utilizar o máximo de informações possíveis para a tomada de decisão. Somente assim seguiremos buscando a eficiência produtiva que todo pecuarista busca, superando a expectativa saborosa que o consumidor deseja e buscando a utilização sustentável de recursos que o planeta precisa.

Texto e foto: Gustavo Ilha – Médico Veterinário e Coodenador de Projetos-Corte na Select Sires do Brasil. Publicado na Revista PecuariaSul Edição 07.

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