Quando iniciamos um artigo que traz a água como tema central, corremos um grande risco de termos leitores virando a página logo depois do título. Talvez, é claro, pela abundância desse nutriente nos campos da nossa região sul. Sabendo disso, resolvemos começar fazendo uma afirmação de impacto – A água é o principal nutriente da nutrição animal!
Você produtor rural, pecuarista, sabe disso? Acreditamos que sim, no entanto, é comum percebemos a necessidade de maior atenção a este tema no dia a dia dos sistemas produtivos.
Vamos começar listando os cinco grandes nutrientes da alimentação: Proteína, Energia, Vitaminas, Minerais e Água. A água, no entanto, apesar de sua importância, é por vezes deixada de lado por se apresentar em abundância em reservatórios naturais. Porém, muitos técnicos e consultores experientes costumam iniciar seu diagnóstico avaliando a água que os animais estão bebendo, pois, a quantidade, qualidade e temperatura da água tem impacto direto sobre os demais nutrientes listados acima.
O rúmen é uma grande câmara aquosa de fermentação. Um “panelão” de água morna onde boiam alimentos e microrganismos que trabalham extraindo nutrientes destes alimentos.
Quantidade
A necessidade diária de água de um bovino depende de diferentes fatores como o seu peso, temperatura ambiente e quantidade de água no pasto ou na dieta fornecida que nos remete a uma relação direta com o volume de matéria seca consumida. Para exemplificar em volume, o NRC for Beef Cattle (2000) nos aponta uma variação entre 25 litros para um terneiro de dois meses de idade e 78 litros de consumo para um touro, considerando ainda diferentes temperaturas do ambiente.
Qualidade
Vamos começar este tema com uma pergunta muito simples: Você beberia a água que está sendo fornecida aos seus animais? Ou, pelo menos lavaria o rosto nessa água? Se a resposta for negativa é muito provável que você esteja perdendo em produtividade, em função da falta de qualidade da água fornecida.
Quando falamos sobre a qualidade da água, temos que levar em conta primeiramente os aspectos sensoriais como odor, limpidez e sabor, características de avaliação simples e que são reprovadas em muitas das aguadas naturais. Isto porque os animais necessitam entrar na aguada para beber e acabam por contaminar a água com barro, fezes e urina, o que reduz consideravelmente o consumo desta água por parte dos animais.
Também devemos considerar os aspectos químicos da água como pH e presença de contaminantes como metais pesados, herbicidas e etc., todos elementos que impactam no consumo, contaminam o ambiente ruminal e consequentemente diminuem o desempenho animal.
Temperatura da Água
A primeira parada da água quando ingerida pelo bovino é o rúmen, onde a temperatura normal está em torno dos 39 graus. Por isto, o instinto do bovino é de dar preferência a ingestão de água morna (+- 28 graus), evitando com isso, que haja grandes variações na temperatura ideal de trabalho dos microrganismos ruminais. Este instinto também inclui a preferência por água parada, porque logicamente se encontra mais quente do que a água corrente.
Localização de Bebedouros ou Aguadas
A localização das aguadas ou bebedouros, dentro da área onde os animais se encontram, também deve ser ponto de grande atenção por parte do pecuarista. Deve-se evitar que os animais tenham necessidade de fazer grandes caminhadas para beber. Quando isso acontece, os animais tendem a estabelecer uma rota de pastejo em função do caminho para a água, muitas vezes negligenciando áreas de pasto que estão fora desta rota. Uma grande distância percorrida também acarreta em um gasto de energia desnecessário e a tendência amplamente verificada por trabalhos de pesquisa é que quanto maior a distância percorrida para beber, menor a ingestão de matéria seca, menor a ingestão de água e obviamente menor o desempenho.
A questão da localização da aguada não impacta somente no consumo de pasto, mas também tem importância sobre o consumo de suplemento. O cocho de suplemento deve se encontrar próximo de pontos de aguada, o que favorece o consumo de ambos (água e suplemento) e por consequência favorecendo também o consumo e o aproveitamento do pasto.
Desempenho
O fornecimento de água em quantidade e qualidade adequadas, não se trata simplesmente de uma questão de capricho do produtor rural ou mesmo de uma importante preocupação com o bem-estar animal. Se trata também de uma questão econômica muito importante, porque tem correlação direta com o desempenho produtivo destes animais. A quantidade e a qualidade da água ingerida têm relação direta com o Ganho Médio Diário dos animais.
Existe uma vasta bibliografia sustentando a relação da água com o desempenho zootécnico dos bovinos, onde se pode encontrar facilmente reduções entre 100 e 200gr de GMD com negligências simples, como o atraso de um dia na limpeza de bebedouros de confinamento por exemplo. O prejuízo pode se tornar muito grande dependendo da quantidade de animais confinados. Por isto, deve-se tomar cuidado redobrado com a limpeza de bebedouros onde bebem muitos animais em um espaço reduzido, pois a contaminação da água é muito mais rápida.
Os investimentos realizados em instalação de bebedouros são geralmente de excelente custo benefício. Mesmo para animais que estão no pasto e possuem aguada natural à disposição como açude ou lagoa. Bombear ou levar por gravidade a própria água desta aguada para bebedouros, permite que os animais bebam água sem ter que entrar nela. Além disso o bebedouro decanta e acumula a maior parte das impurezas no fundo e pode (e deve) ser limpo com a frequência necessária para manter a água em condições adequadas, ao contrário da aguada natural que não permite esta limpeza rotineira.
Ao final deste tema gostaríamos de ressaltar a importância da revisão cotidiana das aguadas e bebedouros. Sabemos que cada realidade comporta um manejo diferente, porém, é necessário que se tenha uma rotina de vistoria da disponibilidade e da qualidade da água que os animais estão bebendo.
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Texto e foto: Equipe PecuariaSul – Nov/21
