O verão vem se aproximando e com ele as altas temperaturas, provavelmente com radiação solar muito alta e pouca chuva como nos últimos anos. Preocupados com esta situação e sempre na busca de trazer informação técnica aplicável, abordaremos nesse artigo, um assunto que sempre está nas rodas de conversas técnicas, mas que muitas vezes no campo não é devidamente observado com atenção, gerando perdas econômicas que por vezes não são contabilizadas pelo produtor rural.
O estresse calórico acontece quando o animal sai de sua faixa de conforto térmico, devido à incidência de fatores como temperatura ambiente, radiação solar e do calor do corporal produzido pelo animal, em decorrência dos processos de fermentação ruminal. Esse estresse reduz o bem-estar dos animais, diminui o ganho de peso, pela diminuição do apetite e afeta o sistema imunológico, causando uma diminuição significativa na produção, podendo levar à morte de animais em situações extremas.
Muitas vezes, o que vemos no campo são animais ofegantes, devido ao aumento da taxa respiratória ou dentro das aguadas para tentar eliminar o calor. No entanto, além das perdas produtivas, devemos levar em conta que um dos princípios básicos do bem-estar animal é que os animais estejam livres de estresse térmico e, a cada ano que passa, maiores são as exigências dos consumidores com relação a estes aspectos.
E aí vem a pergunta! O que devemos levar em conta no manejo e como podemos prevenir futuras perdas na produção, diante dessas adversidades climáticas que se tornam cada vez mais frequentes?
Existem vários fatores a se levar em consideração para se fazer uma gestão adequada em condições extremas de calor, fatores estes que podem gerar impactos importantes no bem-estar e por consequência na produtividade dos animais.
Em dias quentes é importante que os animais tenham acesso a áreas com sombra (artificial ou natural) e água fresca e de qualidade. Não devemos nos importar que os animais não comam durante as horas de permanência na sombra, pois na ausência desta sombra, os animais consomem ainda menos devido ao estresse térmico.
Deve-se levar em conta que o gado come por cerca de oito horas por dia e não mais do que isso. A preferência de pastejo se dá nas horas mais frescas do dia, nas primeiras horas da manhã e no finalzinho da tarde.
As áreas de sombreamento podem ser artificiais, neste caso recomenda-se a utilização de sombrite com 80% de retenção solar como cobertura, com atenção para que a altura fique em torno de 3 a 4 metros do solo, favorecendo a circulação de ar.
A sombra natural também é aconselhável, no entanto, deve-se entender que a circulação de ar no interior destas áreas sombreadas é o principal ponto a ser observado para qualificarmos este sombreamento, pois, áreas de mato muito fechado são menos eficientes na dissipação do calor não favorecem o bem-estar adequado para permanências mais longas.
Neste sentido, a melhor alternativa de sombreamento seria a introdução e utilização de parcelas de florestamento comercial, com espécies como eucalipto, pinus ou acácia por exemplo, o que ainda serviria como renda integrada ao sistema ao longo dos anos. São diversos os estudos que orientam este tipo de implantação e seus benefícios.
Por falarmos em estudos, também é farta a literatura que demonstra o maior ganho de peso dos animais com acesso ao sombreamento, quando comparados aos animais que não tiveram acesso à sombra no verão, possibilitando inclusive, a avaliação financeira deste tipo de investimento, seja através de sombreamento artificial ou natural.
Informações consistentes obtidas na Unidade Experimental Palo a Pique (INIA Treinta y Tres – Uruguai) quantificaram que novilhos europeus em pastagem de Capim Sudão com acesso à sombra apresentaram ganho de peso 14% maior do que novilhos sem acesso a sombreamento durante os verões de 2002 e 2007.
Na Região Norte do Uruguai, Simeone e Beretta (2005) relataram diferenças ainda maiores em favor de animais recolhidos à sombra nas horas mais quentes do dia, em comparação com novilhos que permaneceram pastando livremente.
Outro ponto de atenção é quanto ao manejo nas mangueiras (currais) e transporte do gado. Estes manejos devem ser realizados nos momentos mais frescos do dia, priorizando o bem-estar dos animais e mesmo dos trabalhadores envolvidos.
Bovinos em terminação são os mais suscetíveis ao estresse calórico devido à maior quantidade de gordura subcutânea e ao maior tamanho dos órgãos internos (vísceras) responsáveis principalmente pela geração de calor metabólico. Se a disponibilidade de sombra for restrita (nem todos os animais podem acessá-la), o gado em terminação deve ter prioridade para maximizar os benefícios ao produtor.
A qualidade da carne também pode ser afetada em casos extremos de estresse calórico, principalmente durante a viagem para o frigorífico, resultando numa elevação do pH dessa carne e consequentes alterações organolépticas e redução do tempo de prateleira.
Outro ponto importante, observado em trabalhos de campo, é que a sombra influenciou no consumo de água e manteve o desempenho animal, o que ambientalmente é muito positivo. A utilização deste manejo está alinhado aos objetivos do manejo sustentável, produzir o mesmo quilo de carne com menos insumos, neste caso a água.
A medida que a intensificação na pecuária cresce e são gradualmente superadas as limitações nutricionais, sanitárias e genéticas, aspectos que tradicionalmente não eram considerados, como o efeito direto do clima na produção animal, tornam-se cada vez mais limitantes ou determinantes sobre índices de produtividade durante o período de verão. Não há dúvidas que a sombra para os bovinos, seja ela natural ou artificial melhora a eficiência de produção, pois melhora o balanço térmico dos animais e reduz o requerimento de mantença.
Fiquem ligados, pois ainda falaremos muito sobre este tema por aqui!
Texto: Revista PecuariaSul – 9ª edição – Dez22/Jan23
Referências:
Esquivel, J.C.; Rovira, P.J. e Velazco, J.I.; 2007. Efecto del acceso a sombra artificial en la ganancia de peso, estrés y conducta de novillos pastoreando Sudangras durante el verano. Jornada Anual. Unidad Experimental Palo a Pique. INIA Treinta y Tres. Actividades de Difusion. 511. Outubro de 2007.
Simeone, A. e Beretta, V.; 2005. Suplementación y engorde a corral: cuándo y cómo integrarlos en el sistema ganadero. Jornada Anual de la Unidad de Producción Intensiva de Carne (UPIC). Facultad de Agronomía. Paysandú. 2005.