
Nas duas últimas edições da Revista PecuariaSul viemos escrevendo sobre os 7 Pilares da Lavoura de Carne, já abordamos os 5 primeiros, modelo de negócio ajustado, farm design, fertilidade de solo, plantio direto e excelência no manejo de pastagens e, nesta edição, iremos fechar com chave de ouro com os dois últimos pilares, talvez os mais desafiadores deles para serem colocados em prática, Gestão de Pessoas e Gestão de Indicadores.
Pilar 6 – Gestão de Pessoas
De nada adianta termos o entendimento de que é preciso intensificar a produção pecuária, ter todos os outros 6 pilares da Lavoura de Carne bem planejados, organizados, com plano de ação estruturado, se na hora de colocar em prática eu não tenho uma equipe dentro da propriedade capaz de executar o trabalho.
Em todos os lugares do Brasil e fora do país também, um dos grandes gargalos é a mão-de-obra, tanto de quem faz o trabalho mais operacional das fazendas, quanto pessoas na coordenação e gerência.
O agro, de maneira geral, demorou muito para se dar conta da importância da gestão de pessoas nos negócios e agora precisamos correr atrás desse prejuízo. E não adianta a gente fazer cara feia, achar que não tem jeito, que esta nova geração não quer trabalhar, todo o negócio para crescer tem que entender de gente, para ser capaz de reter e atrair pessoas competentes e quando falamos de lavoura de carne, falamos de um nível de investimento, gestão, metas produtivas e controle maior da pecuária e isso também se estende a equipe.
Não é preciso também adiar o início da intensificação da pecuária de uma fazenda por não estar com a equipe pronta, dificilmente se encontra no mercado pessoas com este nível de capacitação, assim é fundamental neste setor das fazendas, investir em treinamentos e monitoramentos para as equipes, não só para quem está no campo, mas também para os gestores/gerentes, a evolução tem que ser constante.
A equipe de campo tem que estar cada vez mais preparada para executar o que foi planejado, e os gestores se especializando em montar equipes, quase que como um treinador de futebol, escolhe os jogadores certos para que desempenhem o seu melhor naquela posição. Não são raros os casos em fazendas que o goleiro está jogando como atacante ou que temos um jogador de terceira divisão jogando em um time de primeira, e isso é responsabilidade de quem “monta e escala” o time, por isso tão importante quanto capacitar a equipe operacional, os gestores tem que se capacitar também, para que todo o plano de intensificação aconteça e evolua.
Pilar 7 – Gestão de indicadores
Se preocupar em produzir com as técnicas certas, investir mais em ativos do que passivos, comprar bem e vender bem, isso já sabemos que são coisas fundamentais para termos um bom negócio, e na pecuária a lógica é a mesma. Agora também é preciso medir, ter parâmetros e se comparar para saber se o negócio está indo bem ou não. Acredito que todos concordem com isso, porém colocar em prática é a maior dificuldade.
Exige um esforço grande para coletar estas informações, que não são simples de serem coletadas e para que isso realmente ocorra é preciso uma mudança cultural dentro da equipe, no sentido de que todos entendam a importância de ter estas informações e além de coletadas, estas informações tem que ser utilizadas, assim a equipe tem um retorno sobre estes dados, e compreenda com clareza do real sentido das coletas destas informações.
É bem verdade que existem vários negócios e grupos que se tornaram relevantes, que cresceram e ainda crescem sem fazer nenhum destes controles, sem saber qual o ganho médio diário dos seus animais. Porém os tempos mudaram, os custos de produção aumentaram e as margens estão cada vez mais estreitas e estes casos estão se tornando cada vez mais raros, pelo contrário, cada vez mais vemos bons negócios crescendo e expandindo por ter um maior nível de gestão e controle de indicadores do seu negócio, esta é uma tendência que não tem mais volta.
Com a clareza desta importância, outro ponto que passa a ser importante é definir quais são estas variáveis fundamentais para avaliar se o meu negócio pecuário está indo bem ou não. Todas as informações e dados são importantes, mas é preciso fazer o básico bem feito. E quais são os indicadores fundamentais para o negócio pecuário? Nós da equipe SIA, quando iniciamos o trabalho em uma fazenda, sempre priorizamos coletar três indicadores técnicos e três financeiros/econômicos globais do negócio, não de um lote de animais ou de um talhão, mas do negócio como um todo. Dos indicadores técnicos as prioridades são, produtividade em kg de PV/ha, GMD (ganho médio diário do rebanho) e taxa de lotação.
Já os indicadores financeiros, margem de lucro (%), retorno sobre o capital investido (%) e custo em Reais por cabeça por mês. Como já foi frisado, claro que existem outros indicadores importantes (ex. taxa de prenhez, taxa de desmame, peso ao desmame), mas estes são indicadores secundários, que compõem por exemplo o GMD e a produtividade global do negócio. Para quem acompanha a Fórmula 1, e os treinos classificatórios para uma corrida, estas variáveis são como os tempos parciais de uma volta, eles vão mostrando que o carro está indo rápido, com bom desempenho, mas o que importa mesmo é o tempo final da volta de classificação, este que vai dizer se o piloto larga nas posições mais a frente ou mais atrás do grid.
Durante estes três textos procuramos descrever de uma maneira mais detalhada os 7 Pilares da Lavoura de Carne e a importância de trabalhar todos estes pontos quando buscamos intensificar um negócio pecuário. Muitos produtores e técnicos entendem esta necessidade, começam intensificar, mas não dão atenção a todos estes pilares, não tem sucesso e acabam se frustrando. Intensificar a produção pecuária deixou de ser uma opção, hoje ele é uma necessidade, questão de competitividade e sobrevivência. Só que é preciso fazer certo, com uma visão mais holística do negócio e não somente intensificar um ou outro ponto (ex. fazer IATF e não ter pasto suficiente para as vacas).
Além disso, precisamos intensificar a pecuária para mudar o nível de discussão e dos nossos negócios, só assim nas rodas de conversa e debates a gente vai dar menos importância para o preço do boi e falaremos mais sobre produtividade, retorno sobre o capital investido, margem de lucro e etc, e assim prosperar cada vez mais e mais rápido.