No final do mês de julho, pegamos a estrada para o município de Cacequi, na região centro-oeste do Rio Grande do Sul. Dessa vez, para visitar uma propriedade gerida por um casal jovem, empreendedor e muito comprometido com a produção agropecuária.

Marina Lauermann e Rodrigo Zeni abriram as porteiras de seu empreendimento, que teve início a apenas quatro anos, a Estância 4 Irmãos. No entanto, as origens rurais deste casal atravessam gerações com suinocultura, pecuária e principalmente lavouras na região do planalto gaúcho, onde o casal ainda reside, mais precisamente no município de Lagoa dos Três Cantos.

A Estância 4 Irmãos é uma propriedade de 300 hectares, formada por áreas de coxilhas e de várzeas e que vem sendo moldada segundo um estruturado projeto de produção de genética da raça Brangus.

A OPÇÃO PELO BRANGUS

O amadurecimento do projeto e o próprio dia a dia da produção pecuária, fizeram com que os empresários tomassem a importante decisão de agregar valor à pecuária de cria, instalada na propriedade na sequência de sua aquisição e que chegou a passar das 500 matrizes.

A escolha da raça Brangus foi realmente pensada em função de suas importantes características de desempenho produtivo, elevado rendimento de carcaça e por sua alta rusticidade, principalmente na resistência ao carrapato, por serem animais de pelo curto.

Evidentemente que o mercado crescente também foi levado em conta, desde as questões que englobam o comércio de reprodutores até os aspectos de qualidade da carne, cada vez mais procurada nas gôndolas do Brasil e do mundo.

O passo seguinte foi começar a seleção de bons ventres para compor o plantel de aproximadamente 200 receptoras prenhas manejadas anualmente na propriedade, numa clara opção pela qualidade em detrimento de quantidade de animais.

CONSTRUÇÃO DA BASE FORRAGEIRA

Para um melhor entendimento sobre o processo produtivo da 4 Irmãos, precisamos começar falando sobre a base forrageira da propriedade e como ela vem sendo construída para dar suporte a produção de genética criada a pasto e portanto, adaptada as exigências dos clientes que utilizarão essas matrizes e reprodutores em suas propriedades.

Tudo começou com um forte investimento em correção do solo e adubação orgânica para a implantação gradual de espécies perenes de verão que já constituem cerca de 80% dos pastos da fazenda.

A principal espécie utilizada é o Capim Aries, um Panicum que produz até 15% de proteína bruta e que vem mostrando uma excelente produção e adaptação a região. Também é importante mencionar a presença do Capim Tijuca em algumas partes da várzea, pasto que vem mostrando excelente desempenho neste tipo de situação de baixa drenagem ou até mesmo de alagamento.

O remanescente de campo nativo também vem sendo melhorado com manejo de roçadas e contenção de invasoras, assim como a introdução de Azevém para aumentar a produção durante o inverno.

MANEJO DAS ÁREAS DE FORRAGEM

Um forte esquema de piqueteamento foi estruturado para o manejo das áreas de forragem. Foram montadas duas “pizzas” de 80 hectares cada (uma na várzea e outra na coxilha), formadas por 08 piquetes de 10 hectares cada, com praça de alimentação central, incluindo creep-feeding, sombrite e bebedouro. A altura da pastagem é acompanhada quase que diariamente, mas de maneira geral, as trocas de piquete vem acontecendo a cada dois dias, suportando cargas instantâneas de mais de 5.000 Kg de peso vivo por hectare.

A utilização de cercas elétricas foi fundamental para a divisão dessas áreas de maneira prática e econômica, ferramenta indispensável num projeto como este. Além disso, outros piquetes foram montados em tamanhos variados e em áreas estratégicas da propriedade, seja para reserva forrageira, manejo de touros e mesmo para vitrine de animais para comercialização.

Ainda sobre o tema forrageiro, percebemos desde o início de nossa conversa e também ao percorrermos a propriedade, que existe um foco muito grande em expandir a produção de pasto de maneira verticalizada (sobre a mesma área).

Na condição atual, a Estância 4 Irmãos já é superavitária em volume de pasto de qualidade em certos períodos do ano e por isso, um projeto de produção de pré-secado já está sendo estudado para os próximos meses, não somente como reserva estratégica, mas também para a comercialização.

REPRODUÇÃO

Ao voltarmos novamente nosso foco para o gado, avançaremos nossa conversa sobre o ciclo de produção da fazenda, marcando nosso “ponto zero” na etapa de reprodução.

Como já mencionamos, o objetivo da 4 Irmãos é trabalhar com 200 ventres gestantes por ano. Além disso, o trabalho vem sendo direcionado para que o período reprodutivo seja cada vez menor ano após ano, visando padronização e uniformidade dos produtos e também para a simplificação do manejo destes animais durante a parição e também nas etapas seguintes.

TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES

Ainda sobre a etapa de reprodução, precisamos mencionar que as 200 gestações programadas anualmente são frutos de transferência de embrião, onde um time de cerca de 10 doadoras é selecionado para a coleta, gerando os embriões para todos os ventres da fazenda, que são literalmente “barrigas de aluguel”.

Desta maneira, a evolução genética da Estância 4 Irmãos vem conseguindo atingir patamares elevados de qualidade já nos primeiros anos de seleção e de investimento. Cabe ressaltar que anualmente são adquiridos ventres no mercado para que se consiga um número cada vez maior de vacas prenhes já na primeira TE.

Na etapa de parição as vacas são manejadas nos piquetes que ficam mais próximos da sede, facilitando as recorridas que acontecem quatro vezes ao dia, em função do alto valor agregado dos terneiros nascidos. Porém, os partos acontecem geralmente sem nenhuma assistência, mesmo em novilhas, evidenciando a facilidade de parto característica da raça e buscada pelos selecionadores.

CREEP-FEEDING E DESMAME

O projeto contempla a desmama de animais pesados, com aproximadamente 300 quilos aos setes meses de idade. Para isso, a suplementação via creep-feeding (comedouro para acesso exclusivo dos terneiros) é disponibilizada em tempo integral durante o período em que os terneiros se encontram “ao pé da vaca”.

O desmame é uma das mais importantes etapas de manejo dentro da propriedade, pois é nessa fase onde ocorre a primeira seleção dos animais. Além do peso, são avaliadas todas as características fenotípicas preconizadas pela raça e evidentemente destinados para a engorda e abate, machos e fêmeas que não atinjam os resultados esperados pela equipe.

RECRIA E COMERCIALIZAÇÃO

A última etapa de todo este empreendimento prevê a comercialização de animais ao redor de um ano e meio de idade, onde mais uma avaliação acontece para selecionar os animais superiores e destiná-los ao mercado numa perspectiva de peso médio de 600 Kg machos e 450 Kg para fêmeas.

Sabemos que os altos pesos projetados para a comercialização são o resultado da interação entre a superioridade genética com nutrição e sanidade. No que tange a nutrição, o manejo durante a recria vem sendo realizado de maneira semelhante ao descrito para o gado de cria, ou seja, um rotacionado de pastos perenes e de qualidade com suplementação disponível no cocho. A sanidade dos animais também precisa ser mencionada, pois o tema tomou grande parte de nossa conversa.

O calendário contempla o mais amplo investimento em vacinas reprodutivas, pois logicamente, há que se reduzir ao máximo o risco de doenças reprodutivas num sistema como esse, não somente no que tange a reprodução na fazenda, mas também na atenção com a sanidade dos animais disponibilizados ao mercado.

FUTURO PROMISSOR

Conhecer Marina e Rodrigo e podermos ouvi-los detalhando seus planos, nos mostrou o passo a passo de sua gestão baseada na sustentabilidade do projeto. Evidenciamos um sistema de produção pecuária compacto e prático, focado em qualidade, com abundante produção forrageira e atenção permanente ao bem-estar animal.

Vida longa à Estância 4 Irmãos!

Edição e texto: Equipe PecuariaSul

Artigo publicado na Edição 13 da Revista PecuariaSul

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