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DIRETO DOS EUA – Manejo de Touros de Corte: Aspectos a Considerar

By 26 de fevereiro de 2024 No Comments

Durante as estações de primavera e verão a maioria das propriedades de bovinos de corte realizam os seus períodos de acasalamento. Em bovinos, diferentemente do que acontece em diversas outras espécies, não existe uma influência direta da estação do ano (como por exemplo efeitos da incidência e exposição maior à luz do sol) e com isso existe a possibilidade de uma maior flexibilização na escolha do período de monta.

Como escrevemos na edição anterior, cerca de 20% das fazendas utilizam a inseminação artificial como método de acasalamento no estado do Rio Grande do Sul. É um número expressivo, muito semelhante a outros estados do Brasil que se destacam na produção de bovinos de corte. Mesmo assim, ainda 80%, aproximadamente, das nossas matrizes são acasaladas com touro em monta natural.

Desta forma, a importância do reprodutor e a execução de seu trabalho apresentam um impacto bem significativo no sistema de produção.

Necessidade da Utilização do Touro

O papel que o touro ainda desempenha dentro de um sistema de produção de bovinos de corte é fundamental e de grande responsabilidade. Em primeiro lugar deve-se considerar a pressão de seleção que um macho sofre durante o seu processo de criação e desenvolvimento. Esta pressão de seleção muito maior do que a realizada nas fêmeas, uma vez que a necessidade de machos para compor um rebanho é muito menor. Assim, dentro dos programas de melhoramento genético, é possível buscar a fundo e detalhadamente os atributos e características desejadas dentro de uma determinada população de machos candidatos a reprodutores. Como resultado, o touro é o responsável pelo aumento da média dos animais selecionados para uma determinada característica, influenciando a médio e longo prazo o ganho genético para aquela medida de interesse zootécnico.

Além disso, o potencial impacto de algum problema reprodutivo de um touro é muito maior do que o mesmo considerando-se as vacas. Ou seja, uma vaca com algum impedimento reprodutivo qualquer, deixará de produzir um terneiro. Já um touro poderá potencialmente deixar de produzir em monta natural entre 25 a 40 terneiros. É essencial, portanto, respeitar e realizar todos os procedimentos necessários para garantir ou mesmo potencializar a fertilidade e eficiência reprodutiva de um touro.

Potencializando a Utilização do Touro

Determinados cuidados e manejos são necessários para a maximização da utilização de touros em monta natural, quer seja em um período longo de acasalamento (em média 90 dias), quer ao se considerar a utilização logo após a inseminação artificial como repasse em monta natural.

O exame andrológico deve ser o primeiro e até mesmo o principal fator a ser considerado para a utilização de um touro. A realização anual deste exame, preferencialmente 60 dias antes do início do acasalamento, deveria ser mandatória em qualquer estabelecimento.

Contudo, ainda é muito comum que diversas fazendas não realizem esta averiguação, ficando tão somente com o atestado e certificação da qualidade e potencialidade andrológica do touro quando da sua compra (muitas vezes anos antes). Devemos considerar que diversas alterações com potencial prejuízo ao desempenho reprodutivo do touro podem ocorrer ao longo do tempo e modificar totalmente a sua condição de aptidão reprodutiva em questão de dias.

Ainda deve-se lembrar, que durante as fases que compõem um exame andrológico, não somente os órgãos reprodutivos, a checagem do sêmen e qualidade espermática são realizados, mas também aspectos de saúde geral, do desenvolvimento do reprodutor, dos membros responsáveis por fazerem seu deslocamento a campo e de realizarem o salto durante a monta natural, são todos aspectos chave para garantir seu desempenho durante uma temporada reprodutiva.

Além do exame andrológico, aspectos de nutrição devem ser considerados, como a nutrição mineral que vem sendo ofertada ao touro, já que determinados minerais cumprem um papel importantíssimo no processo reprodutivo, tais como o zinco, o selênio e o cobre. Obviamente somam-se a esses cuidados, uma dieta bem equilibrada de forma a evitar um sobrepeso no momento do início das atividades de monta.

Outros aspectos considerados importantes são aqueles direcionados a evitar um desgaste excessivo dos touros. Assim, busca-se realizar ajustes na proporção de touros a serem utilizados (relação touro:vaca) em que, de acordo com o tamanho da área destinada para o acasalamento (potreiro), sua topografia mais ou menos acidentada (touros deverão percorrer maiores distâncias, passar por maiores obstáculos para atender o rebanho), bem como a idade dos touros (touros mais jovens de 2 ou até 3 anos tendem a servir um número menor de vacas) devem ser considerados.

Existe ainda, um outro aspecto de grande interesse no manejo de touros hoje em dia, que é a utilização destes durante o repasse após a inseminação artificial em tempo fixo. Assim, como geralmente é esperado que metade das vacas em média tenham concebido após os protocolos, existe uma grande possibilidade da outra metade retornar em cio de uma forma sincronizada, o que exigirá ainda mais dos touros em um curto espaço de tempo. Este é um produto do que é chamado de “frequência de cio do rebanho entourado”.

Como um exemplo, na Figura 1 é possível ver um exemplo da influência grande das categorias de fêmeas nesta frequência, ou seja, fêmeas cíclicas apresentavam maior frequência de cio logo no início do período do acasalamento, ao passo que as fêmeas que vão retomando a atividade cíclica (vacas com cria ao pé) ou mesmo as novilhas que vão atingindo a puberdade, apresentam um comportamento diferente e aumentam a frequência de animais em cio ao longo do período de acasalamento. Da mesma forma, esta frequência de cio vai sendo reduzida na medida em que as fêmeas concebem ao longo do período de acasalamento. Desta forma, deve-se ajustar a proporção de touros de acordo com esta frequência de cio do rebanho, ou seja, utilizar um número maior de reprodutores de acordo com a ciclicidade do rebanho ao longo do período de acasalamento.

Considerando esses aspectos relacionados à frequência de cio do rebanho de fêmeas, atualmente deve-se ainda, atentar-se aos aspectos da utilização de touros logo após a IATF (repasse) e considerar não só um número maior de reprodutores a ser utilizados 10 ou 15 dias após a inseminação artificial, como também, considerar outros manejos que podem auxiliar o trabalho dos touros, tais como:

Reunir o rebanho das vacas uma vez ao dia, preferencialmente à tardinha, para que o touro não tenha que percorrer grandes distâncias, o que aumentaria seu desgaste físico;

– Realizar uma rotação de touros quando possível;

– Considerar os efeitos de diferentes idades dos reprodutores, buscando eventualmente associar touros mais velhos com touros mais novos;

Revisar os touros diariamente a fim de detectar alguma modificação em aspectos relacionados a saúde que possam prejudicar seu desempenho;

– Detectar e controlar a dominância de alguns touros, uma vez que algum touro que eventualmente tenha sua capacidade reprodutiva prejudicada pode acabar não permitindo também que um outro touro realize o serviço;

Monitorar a condição corporal (muito alta ou muito baixa) buscando a manutenção de boas condições físicas do touro para a realização dos serviços;

– Controlar a presença de ectoparasitas que possam, além de ocasionar problemas sanitários, também serem fatores de estresse e desconforto animal.

 

Cássio C. Brauner – Prof. Associado Departamento de Zootecnia – FAEM – UFPel
Eduardo Schmitt – Prof. Adjunto Departamento de Clínicas Veterinárias – FAVET – UFPel
Marcelo Alves Pimentel – Prof. Associado Departamento de Zootecnia – FAEM – UFPel
NUPEEC HUB UFPel – Núcleo de Pesquisa Ensino e Extensão em Pecuária da Universidade Federal de Pelotas/RS.

Artigo publicado na Edição 15 da Revista PecuariaSul.

Bibliografia consultada:
BRAUNER, Cássio Cassal; MENEZES, Leonardo de Melo ; LEMES, J. S. ; PIMENTEL, M. A. . Differences between reproductive traits in beef bulls used for multiple-sire breeding under range conditions. Canadian Journal of Animal Science, v. 94, p. 647-652, 2014.
PIMENTEL, Marcelo Alves; VINHAS FILHO, Á. ; JARDIM, P. O. C. ; SIEWERDT, F. ; RIBEIRO, W. N. L. ; OLIVEIRA, J. A. F. . Freqüencia de cio em diferentes categorias de fêmeas de bovinos de corte no RS.. In: Encontro de Raças Bovinas de Corte no Centro do Rio Grande do Sul, 4, 1994, Santa Maria-RS. Encontro de Raças Bovinos de corte no Centro do Rio Grande do Sul, 4. Santa Maria-RS: ENCORTE, 1994. p. 23-23.
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