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Caderno SIA – Modelo de Negócio e Farm Design – Os Dois Primeiros Pilares da Lavoura de Carne

By 17 de setembro de 2024 No Comments

Um dos textos que publicamos na Edição 13 da Revista PecuariaSul, em agosto de 2023, nós abordamos o conceito da Lavoura de Carne. Este conceito que faz uma analogia à lavoura de grãos, onde para se produzir mais e com rentabilidade é preciso investir nas tecnologias certas e na pecuária a lógica é a mesma. Nestes anos de trabalho da SIA, observamos que uma Lavoura de Carne para ser bem conduzida em qualquer lugar do Brasil, é preciso ter 7 pilares fundamentais bem estruturados: 1) Modelo de negócio ajustado; 2) Farm Design; 3) Fertilidade de solo; 4) Plantio Direto; 5) Excelência no manejo de pastagens; 6) Gestão de pessoas e 7) Gestão de indicadores.

Com a grande repercussão deste texto, vários leitores pediram para a gente falar mais sobre o assunto, então resolvemos fazer uma trilogia, isso mesmo, três textos para falar de uma maneira mais detalhada sobre esta pecuária lucrativa. Neste primeiro texto iremos começar com os dois primeiros pilares, Modelo de Negócio Ajustado e Farm Design.

Pilar 1 – Modelo de Negócio Ajustado

O pilar primordial da Lavoura de Carne é ter um Modelo de Negócio Ajustado, isto é, onde se define em qual fase da produção pecuária este negócio irá se dedicar a produzir. Os modelos de negócio mais conhecidos são a cria (produção de terneiros); recria (fase de crescimento, entre desmame e a terminação); terminação (fase de engorda) e o ciclo completo (todas as fases em uma mesma fazenda). Para uma pecuária lucrativa é inegociável ter este modelo de negócio bem ajustado, os ciclos produtivos da pecuária de corte na sua maioria são longos (acima dos 12 meses) e toda a propriedade deve estar formatada para atender este negócio. Por mais que a base produtiva seja a mesma, a Pecuária de Corte, uma propriedade de cria tem uma formatação de negócio que é bem diferente de uma propriedade de ciclo completo, por exemplo.

Por isso, uma vez definido este modelo, independente do momento do mercado (alta ou baixa), ele precisa ser mantido ao longo do tempo.

Para definir este modelo de negócio ideal para cada propriedade é preciso levar em conta alguns pontos, como o mercado, a aptidão das áreas, o perfil dos gestores e a escala de produção. Contextualizando um pouco aqui, o modelo de negócio da cria demanda muito cuidado no manejo dos animais (nascimento dos terneiros), tolera ambientes mais “rústicos”, com investimento moderado em insumos, o que tende a demandar menos caixa, menor desembolso mensal para custear o rebanho, assim como menor movimentação de compra e venda de animais na fazenda, o trabalho maior é dentro da porteira. Os principais produtos comercializados são os terneiros e animais de descarte, e como os animais de produção (touros e matrizes) são mantidos o tempo todo dentro da propriedade, o potencial produtivo (kg/ha/ano) é menor, o faturamento por hectare é menor, por isso a escala de produção para um negócio saudável deve ser maior.

Já a recria/terminação é para quem gosta de trabalhar dentro e principalmente fora da porteira, pois comprar e vender bem os animais é fundamental e o giro de dinheiro é muito maior, tanto pela movimentação dos animais, quanto pelos gastos com insumos. O que move este negócio é o alto ganho de peso e, para isso, é preciso investir em nutrição (pastagem e suplementação). Esse modelo tem um alto potencial produtivo (kg/ha/ano), assim se encaixa bem em diferentes escalas de produção (pequenas e grandes propriedades).

A determinação do modelo de negócio deve ser feita à sangue frio, usando a razão, analisando todos estes pontos citados acima, e reduzindo a ação na emoção, muito comum na pecuária com o amor pelos animais, coisa que nos dias de hoje, se olharmos muito para isso, o preço normalmente é muito alto. Muita gente que gosta da cria e tem uma propriedade pequena, é preciso entender que este talvez não seja o melhor negócio para esta propriedade, não que não se possa fazer, mas é preciso entender que este negócio tem limitações, uma delas é faturamento, que vai ser baixo comparado, por exemplo, a uma recria e terminação, assim se tem dificuldade de diluir os custos fixos e alcançar boas margens de lucro.

Outro fator importante é o mercado, na pecuária de corte o preço do boi oscila ao longo dos anos, conforme a oferta e procura da carne, ainda mais intenso que outras atividades, fruto do ciclo pecuário, que de tempos em tempos o preço do produto vai baixar (como estamos vivendo agora).

Nestes momentos é importante fazer os ajustes necessários (regular investimentos), mas se manter firme no modelo de negócio que está definido, para não ter um revés no futuro. Um exemplo clássico disso são produtores de cria que decidiram não vender os terneiros em momentos de baixa dos preços, optando por recriar estes animais tentando gerar mais valor por animal.

Esta simples decisão, representa um maior número de animais na propriedade, que na maioria dos casos a fazenda não suporta esta carga e alguma categoria vai ser afetada pela falta de pasto, normalmente esta categoria são as vacas com cria ao pé. Vacas “apertadas de campo” perdem condição corporal, no final da estação reprodutiva o resultado é de baixa na taxa de prenhes no ano seguinte e, dois anos depois, menos terneiros nascidos e comercializados. Uma pequena decisão pontual afetou o negócio dois até três anos depois.

O instinto humano é de seguir a manada, neste caso da pecuária é agindo pela emoção de mudar de modelo de negócio conforme estiver o mercado, deixando as oportunidades racionais passarem. Por isso é tão importante ter um modelo de negócio ajustado, para aí sim definir o Farm Design dentro da fazenda, para otimizar o uso do solo e atender as exigências do rebanho, impulsionar a produção e o faturamento global da propriedade.

Pilar 2 – Farm Design

Apesar de parecer ser mais um termo em inglês para ser mais moderno e bonito, na verdade este pilar é alicerçado em um conceito desenvolvido na Europa, para o planejamento dos cultivos do solo na propriedade no espaço e no tempo. Isso vai muito mais além do que um simples planejamento forrageiro, é preciso criar um “design” do uso das áreas para atender sim as exigências do rebanho, mas também buscar o sinergismo entre as culturas no médio e longo prazo e manter o solo sempre em produção, se possível os 365 dias por ano, afinal área parada é área que deixa de produzir e gerar faturamento.

Para ficar mais claro como que se faz um bom Farm Desing, imagine a sua propriedade vista de cima, com olhar de “drone” sobre os talhões e você pudesse enxergar como está organizado o uso do solo ao longo do ano, os talhões cultivados com lavouras de grãos e pastagens, no verão e no inverno, assim você poderá ver esta organização e também identificar quantos meses do ano estas áreas estão realmente em produção ou se uma parte do ano fica sem produzir.

Depois disso é preciso cruzar estas informações com a demanda do seu rebanho, identificando se a oferta de pastagem tem a capacidade de suprir o que as diferentes categorias animais precisam (encaixe com o modelo de negócio), prevenindo falta de pastagem (vazio forrageiro) e desperdícios (sobrar pasto demais em alguma época do ano).

Por fim, não só olhar anual, mas é importante montar um plano de rotação de culturas de longo prazo (ao menos de 5 anos), organizando o uso das áreas para que as culturas que forem semeadas ao longo dos anos nos talhões sejam semeadas de maneira alternada (rotação), além de atender o que os animais precisam, tenham uma ação sinérgica, quebrando ciclo de pragas e doenças e incrementando os benefícios no solo (ex. aumento de matéria orgânica e microrganismos), melhorando o desempenho produtivo da cultura que vem na sequência.

Para exemplificar a importância disso, estudos recentes têm demonstrado que as pastagens são um dos grandes melhoradores de solo, impactam em um aumento que pode chegar em até 20% a produtividade de milho que vem após o seu cultivo de pastagens bem manejadas. Ou seja, no plano de rotação de culturas, deve se priorizar semear o milho em áreas que vem na sequência de pastagens de inverno bem manejadas. Estes ganhos também ocorrem com a soja e o arroz, com aumentos na produtividade na faixa de 10 a 15%.

Desta maneira, fica claro a importância destes dois primeiros pilares para uma pecuária lucrativa, na próxima edição voltaremos para falar de outros três pilares extremamente importantes, fertilidade de solo, plantio direto e excelência no manejo de pastagens.

 

Armindo Barth – Gerente Técnico SIA Brasil

Juarez Tomazi – Gerente Regional Paraná SIA Brasil

Artigo publicado na Edição 16 da Revista PecuariaSul

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