A pecuária brasileira alcançou o topo do ranking mundial da produção de carne, porém, nossos índices de produtividade ainda se encontram muito aquém dos índices verificados em países como Estados Unidos e Austrália por exemplo, mostrando que temos um longo caminho a percorrer neste sentido. Lembrando que aumentar a produtividade também significa produzir mais carne por área disponível.
A produção de bovinos de corte no Brasil, assim como em nossa região sul, está sustentada predominantemente pela utilização de pastagens, onde a produtividade dos animais está diretamente relacionada à qualidade nutricional das mesmas.
De maneira geral, estas pastagens apresentam deficiências marginais e até mesmo severas de alguns minerais, onde se faz necessária a suplementação destes elementos para o melhor balanceamento da dieta ingerida, seja qual for o ambiente ou sistema de produção adotado.
Os microminerais são desta forma denominados, em função de sua baixa concentração no organismo animal, em geral medida em mg/kg ou ppm (parte por milhão), distinguindo-se dos macrominerais que podem ser medidos em g/kg e até mesmo na casa percentual.
É importante deixar claro que os microminerais são elementos de baixa necessidade de ingestão diária, porém, não podemos pensar que por isto são menos importantes, pois verificamos a presença dos microminerais em funções vitais do metabolismo animal.
Funções dos Microminerais
1 – Estrutural: Pela simples presença ou participação na estrutura de órgãos e/ou tecidos.
2 – Físico-química (metabólica): Caracteriza-se pela ação do elemento em questão na execução de uma tarefa biológica.
3 – Catalizadora de reações bioquímicas: Função relacionada à atividade enzimática e hormonal. Neste caso, alguns microminerais exercem papel fundamental como reguladores da velocidade de reações bioquímicas (catalizadores).
Os 8 Microminerais Essenciais
Segundo Cavalheiro (1992), ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu), iodo (I), manganês (Mn), cobalto (Co), molibdênio (Mo) e selênio (Se) são considerados microminerais essenciais.
Na tabela abaixo podemos observar as principais funções dos elementos citados no organismo dos bovinos.
Inter-relações dos Minerais
Podemos verificar relações de sinergia e de antagonismo entre os minerais. Relações de sinergia são aquelas em que alguns minerais participam mutuamente de uma mesma função orgânica. As relações de antagonismo entre os minerais são as que requerem maior atenção no momento das formulações, pois neste caso, o excesso de um determinado elemento diminui a absorção de outro. Um exemplo claro deste tipo de relação é o antagonismo entre o ferro (micromineral) e fósforo (macromineral), onde o excesso de Fe (frequente nas dietas de bovinos) diminui gradativamente a absorção do fósforo (P), que é o elemento mineral de maior importância comercial na formulação de suplementos.
Deficiência
A deficiência de microminerais na dieta é dificilmente constatada através de sintomas clínicos aparentes, e sim através da perda de produtividade e desempenho reprodutivo ao longo dos anos, também chamada de deficiência subclínica. Este tipo de deficiência pode acarretar grandes perdas econômicas ao sistema produtivo, pois seu impacto está geralmente relacionado a um longo espaço de tempo.
Excesso
Até a poucos anos, alguns microminerais eram mais conhecidos por sua toxidez do que efetivamente por suas funções orgânicas específicas. Esta toxidez está relacionada aos casos de excesso de ingestão de determinado microelemento, onde se pode identificar o problema através de sintomas clínicos. O Se, por exemplo, quando ingerido em excesso pode causar problemas nervosos, rigidez das articulações, perda de pelos e deformações nas unhas.
Devemos observar também, que a relação de antagonismo é o problema mais comum quando existe o excesso de ingestão de alguns microminerais e neste caso os sintomas começam pela perda de desempenho produtivo, podendo evoluir posteriormente para a manifestação de sintomas clínicos.
Imunidade, Reprodução e Microflora Ruminal
Microminerais como Cu, Zn, Se e Mn são responsáveis pelo funcionamento dos mecanismos antioxidantes do organismo, que servem para estabilizar os radicais livres, mantendo a estabilidade funcional e estrutural das células. Tais mecanismos antioxidantes são de extrema importância para o sistema imune e consequentemente para a saúde dos animais (McDonald, 2002).
A deficiência de Se predispõe a ocorrência de problemas reprodutivos após o parto como retenção de placenta, endometrite e metrite. Além disso, nos machos, a baixa disponibilidade deste mineral reduz a concentração espermática e aumenta o número de espermatozoides mortos e defeituosos.
Conforme Mendonça Júnior (2011), Fe, Zn e Mo são microminerais importantes como ativadores enzimáticos da microflora ruminal. Isto significa que estes elementos são responsáveis pelo desempenho da população bacteriana do rúmen na produção dos metabólitos requeridos pelo organismo animal.
Microminerais nas Pastagens
Grande parte das forrageiras utilizadas na produção pecuária brasileira apresentam deficiências altas de Zn e Cu enquanto que Co, Se e I apresentam, em geral, deficiências consideradas médias. Nestes casos o pecuarista deve prestar a atenção para a presença, em níveis adequados, destes minerais no suplemento. Já Fe e Mn geralmente não apresentam deficiência nos solos e forrageiras do Brasil e neste caso, o principal problema passa a ser o excesso destes minerais, onde as relações de antagonismo podem diminuir a biodisponibilidade de outros elementos importantes da dieta dos bovinos.
Texto Equipe PecuariaSul
Referências:
CAVALHEIRO, A. C. L. Os Minerais para Bovinos e Ovinos Criados em Pastejo. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzatto, 1992. 122p.
GONZÁLEZ, F. H. D.; et al. Perfil Metabólico em Ruminantes: Seu Uso em Nutrição e Doenças Nutricionais. Porto Alegre: UFRGS, 2000.
MENDONÇA JÚNIOR, A. F.; et al. Minerais: Importância de Uso na Dieta de Ruminantes. Agropecuária Científica no Semi-Árido, UFCG – Patos – PB. v7, n 01 janeiro/março, 2011 p. 01-13.
McDONALD, P.; et al. Animal Nutrition. 6th ed. Edinburg: Pearson: 2002. 639 p.