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FAD SEMENTES – Busca por Qualidade Gera Referência no Mercado de Carnes

Ao final deste último mês de novembro, nossa busca pelos melhores casos de produção pecuária nos levou novamente até o litoral do Rio Grande do Sul. Desta vez, visitamos a FAD Sementes, localizada no município de Capivari do Sul, a cerca de 70 quilômetros de Porto Alegre. FAD é a sigla que corresponde a Flávio Antônio Dutra, o precursor desta empresa familiar que já tem sua terceira geração envolvida no negócio.

Nossa visita foi guiada por João Vitor Dutra e Virgínia Dutra, primos que trabalham junto a gestão e operação dos negócios e também por Arthur Fagundes e Ana Laura Fritz, da Costeira Desenvolvimento Pecuário, empresa que presta assessoria técnica na parte de produção pecuária.

Para contextualizar nosso leitor é importante mencionar que a empresa trabalha sobre uma área total de aproximadamente 3.500 hectares, onde se produz arroz, soja, milho (grão e silagem) e sementes de arroz, além das áreas de pastagem para pecuária. As áreas de cultivo são alternadas entre as culturas conforme a necessidade de rotação num sistema de integração com a pecuária (ILP).

Importante mencionar, neste início de texto, sobre a atitude de pioneirismo do fundador da empresa, que faz parte também do DNA de seus sucessores. A trajetória da FAD Sementes foi marcada pela busca de tecnologias de plantio de arroz, melhoramento do solo e espécies forrageiras mais produtivas apenas como exemplo. Outro aspecto muito marcante em todos os processos da empresa é a busca pela qualidade. Sabemos que qualidade e melhoria contínua são características normalmente presentes em empresas produtoras de sementes e a expansão dessa cultura para a produção de carne nos mostra um caminho a ser seguido.

BOI GORDO TODAS AS SEMANAS DO ANO

Chegamos à FAD Sementes através de nossos parceiros da Costeira, que nos chamaram a atenção para o modelo de comercialização dos novilhos produzidos na empresa. Como sabemos, a atividade pecuária é marcada pela sazonalidade. A maior ou menor produção forrageira dependendo da época do ano e a necessidade de liberação de áreas para agricultura são apenas exemplos comuns de nossa realidade, que se refletem na formação de safras de comercialização de gado gordo. Muitos são os pecuaristas que hoje em dia lançam mão de manejos diferenciados para “furar” estas safras com o principal objetivo de vender no momento de melhor preço, ou seja, na entressafra.

Na FAD a preocupação é diferente. O foco não está no preço, mas sim no cliente. A empresa não vende diretamente para frigoríficos como normalmente acontece neste mercado, mas sim para algumas casas de carne locais, que semanalmente escolhem na propriedade os novilhos com o acabamento ideal para sua clientela, carregam e pagam pelo abate no frigorífico local para posteriormente abastecerem suas gôndolas sempre com carne fresca e de alta qualidade.

Toda a semana são embarcados entre 20 e 30 animais e neste ano de 2024 a média deve fechar em 22 novilhos gordos por semana, totalizando mais de 1.000 cabeças comercializadas por ano. Num primeiro momento, podemos até pensar em algum prejuízo econômico quando comparamos com modelos completamente voltados para a comercialização na entressafra como muitos já fazem.

Entretanto, o valor de comercialização na FAD tem embutido o valor da disponibilidade constante e padrão de qualidade que fidelizam seus parceiros comerciais, o que lhes garante um incremento de preço em relação ao mercado. Além disso, existe a questão do fluxo de caixa, que neste modelo garante a entrada constante que garante o saldo para pagamentos que necessariamente são mensais como pessoal e alguns insumos.

Atualmente a empresa trabalha com cinco clientes (casas de carnes) que compram seus novilhos gordos e comercializam essa carne que virou referência de alta qualidade no próprio município, na região metropolitana de Porto Alegre e também no litoral norte do RS.

COMPRA DE TERNEIROS

As regras de parceria e relacionamento comercial utilizadas para a venda para o abate também são utilizadas no momento da compra dos animais.

A empresa não possui gado de cria e adquire todos os animais para seu sistema de recria e engorda de fazendas da região e que já possui parceria estabelecida ao longo dos anos, garantindo a oferta e principalmente a qualidade dos animais por conhecer sua procedência.

Por outro lado, a sazonalidade ainda é um aspecto marcante na compra de terneiros, pois quase todo o volume de compra da FAD ainda está concentrado durante os meses de outono no momento tradicional de desmama. Já na chagada na propriedade, os animais são loteados de acordo com seu peso e precocidade para serem melhor manejados durante o período de aproximadamente um ano que ficam na propriedade. Em nossa conversa nos foi salientado que atualmente existe um consenso sobre a necessidade de se aumentar o percentual de animais comprados fora da estação tradicional, como na primavera, por exemplo, e isto já está sendo trabalhado para que no médio prazo, essa melhor distribuição de compra possa inclusive aumentar a capacidade de suporte e por consequência o volume de animais terminados na empresa.

NUTRIÇÃO BEM PLANEJADA

É fácil de se imaginar que num sistema como o que descrevemos é necessário muito planejamento e constante monitoramento para que se consiga cumprir com as metas de recria e terminação. A base alimentar é forrageira, ou seja, produção de carne à pasto. Para isso, são destinados cerca de 250 hectares de pastagens durante o verão, período em que se concentra a produção de grãos que ocupam a maior parte da área útil trabalhada.

No entanto, durante o período de inverno, são disponibilizados quase 2.000 hectares de pastagens para a pecuária que comportam aproximadamente 1.300 animais, contando animais do ano corrente e animais em fase de acabamento comprados ainda no ano anterior, que vão percorrendo, em sistema rotacionado, todas as áreas de pasto disponíveis numa base sólida de aveia, azevém, trevos e cornichão. Importante mencionar que a empresa está focada na produção de novilhos jovens e por consequência em carne de qualidade.

Desta forma, os animais são abatidos entre os 15 e 24 meses de idade de acordo com o grau de acabamento que apresentam.

Para otimizar seus resultados, toda uma estratégia de suplementação é dimensionada para os animais, com a utilização de farelo de arroz, silagem de milho e milho em grão produzidos na propriedade, além de um núcleo mineral adquirido para o balanceamento da dieta que é misturada em vagão distribuidor e fornecida diariamente para os animais numa oferta que varia entre 0,8 até 1,4% do peso vivo conforme a necessidade de acabamento de cada lote.

Esta variação na quantidade de suplemento fornecida se dá especificamente em função da manutenção constante de animais prontos para o abate, mas também zelando para que não se mantenha por muito tempo um volume muito maior do que o necessário de animais prontos, preconizando-se eficiência econômica. A média de ganho de peso diário (GMD) está em 1,400 Kg, proporcionando um ótimo acabamento, marmoreio e maciez em animais jovens, que são abatidos numa média de 480 Kg de peso vivo.

M&C CASA DE CARNES

Após nossa visita na FAD Sementes, aproveitamos para conhecer a M&C Casa de Carnes, também localizada em Capivari do Sul, um importante cliente da FAD que todas as quintas-feiras, escolhe e carrega uma média de 10 novilhos gordos. Fomos recebidos pelo proprietário Maximiliano Gallardo, um argentino erradicado no Brasil que nos contou a história de seu empreendimento que se encontra em crescimento devido a crescente demanda por carne de qualidade.

A casa de carnes está expandindo seu negócio ao mesmo tempo que gera a confiança de seu cliente, o consumidor, através da disponibilidade constante de carnes especiais em acabamento e maciez originárias da FAD.

Seu trabalho inclui a desossa e comercialização de cortes especiais para churrasco, mas também a oferta de cortes preparados para o dia a dia, incluindo caixas com um mix de carnes porcionadas e já picadas, fatiadas em bifes ou mesmo moídas, o que facilita muito na hora do preparo cotidiano. A praticidade e o porcionamento adequado, aliados a própria qualidade constante da carne ofertada agrega valor e aumenta a comercialização de cortes do dianteiro, resultando num maior equilíbrio na venda das carcaças como um todo, conforme nos comentou Maximiliano.

Não pudemos deixar de notar a questão da localização e a importância que ela exerce num negócio como este, pois a M&C está localizada na área comercial de um posto de combustíveis a beira de uma das rodovias que liga a capital ao litoral do RS e atingindo uma maior amplitude de público.

TUDO COMO UMA ENGRENAGEM

Nossa jornada por Capivari do Sul nos propôs importantes reflexões que merecem e precisam ser compartilhadas. Percebemos de maneira muito clara o compromisso estabelecido entre os elos da cadeia.

Compromisso este, que começa com a compra dos terneiros, quase sempre dos mesmos parceiros que sabidamente possuem uma ótima base genética e desempenham bem na fase de cria, que reflete no desempenho da recreia e engorda e ainda na qualidade da carne.

Compromisso com o mercado que consome sua carne, e aí o grande diferencial de assumir a responsabilidade com o mercado ao entregar novilhos gordos, com alta qualidade, todas as semanas.

O comprometimento com o mercado é sem dúvida, um dos pilares da sustentabilidade de qualquer negócio, mas que ainda carece de expansão no segmento pecuário, que em grande parte, está com sua gestão focada apenas dentro da porteira.

João Vitor Dutra, da FAD, nos enfatizou outro ponto muito importante que denota a filosofia de trabalho da empresa – “Considero que a gente está sempre em evolução constante, o importante é que nem sempre quer dizer que o que você fez hoje e ontem, seja o que você tem que fazer no dia de amanhã, a gente está sempre aprendendo e evoluindo, essa é a ideologia da FAD, essa evolução constante em todos os segmentos.”

Melhoria contínua se traduz na prática, em buscar formas de melhorar e/ou simplificar o que fazemos em nosso dia a dia de trabalho na pecuária, mas que possam principalmente trazer melhores resultados.

Depoimento:

“Fazer parte da trajetória produtiva da FAD Sementes é uma grande honra para nós, ainda mais honrados ficamos em poder contribuir no planejamento e execução de uma cadeia produtiva local que ganha força ano após ano.

Cada animal produzido nos pastos da FAD e posteriormente comercializado na região litorânea, carrega muito da história e da essência da empresa, que tem a qualidade, o bem-estar animal e a paixão pela pecuária como alicerces da sua produção.

Poder trabalhar com pessoas competentes e engajadas a produzir cada vez mais e melhor é o que move e impulsiona a Costeira. Agradecemos a FAD Sementes pela confiança em nós depositada e a Revista PecuariaSul pelo interesse em mostrar este “case” que pode servir como referência pra muitas outras empresas agropastoris.” – Arthur Fagundes, Médico Veterinário e Cofundador da Costeira – Desenvolvimento Pecuário

Artigo publicado na edição 21 da Revista PecuariaSul
Texto e edição: Equipe PecuariaSul