
As técnicas de armazenamento de forrageiras consistem basicamente em armazenar esse alimento volumoso no período de maior oferta, para que possamos amenizar os vazios no período de menor oferta. Nas regiões tropicais existe uma grande produção nos períodos de águas, nos períodos de chuvas e uma menor produção no período de seca. Nas regiões subtropicais e temperadas, quando se fala do Brasil, mais ao Sul do Brasil, principalmente estados do RS, SC e PR, existem dois períodos de oferta forrageira, um período obviamente no verão, onde se tem a oferta dos pastos tropicais e um período de inverno com a produção de forrageiras de clima temperado. Entre estas estações ou períodos de boa produção temos os vazios forrageiros, onde se encontra a maior demanda para estes volumosos conservados.
As técnicas usadas mais conhecidas são ensilagem e fenação. A ensilagem é quando colhemos a forrageira e imediatamente armazenamos em silos, para que ali ocorra o processo de fermentação que mantém a silagem conservada até o momento que vamos servir ao animal. No caso da silagem armazena-se a planta com média de 65 a 75% de umidade.
Temos o processo de fenação, onde cortamos a forrageira, desidratamos essa forrageira no campo (normalmente leva de três a quatro dias até que ela sofra toda essa desidratação) para que seja colhida e armazenada com uma umidade média de 15 a 20%.
Há alguns anos surgiu nos Estados Unidos a técnica do pré-secado, que consiste num sistema intermediário entre silagem e feno, como o próprio nome diz ele é pré-secado ou pré-desidratado, colhido murcho e armazenado com umidade média de 50 a 55%.
A técnica do pré-secado começou a ser difundida no Brasil em meados dos anos 2000, principalmente nas regiões produtoras de leite do PR, onde surgiram as primeiras propriedades a usar a tecnologia. Essa difusão começou a acontecer de maneira espontânea em todas as regiões do Brasil. Hoje em dia, se produz pré-secado em praticamente todo território nacional.
Passo a passo para a Produção do Pré-secado
Primeiramente, é importante salientar que o pré-secado requer equipamentos específicos. É preciso ter um kit para produção que consiste obviamente em trator, a segadeira para corte, ancinho para espalhar e enleirar, a máquina enfardadora e a envelopadora, que é a máquina que faz a embalagem do pré-secado nessa bola.
Tudo começa com o corte do pasto, quando passamos a segadeira. Em seguida devemos deixar essa forragem murchar ao sol, vamos passar o ancinho para espalhar e dependendo da intensidade do sol, as vezes com 2 a 3 horas ao sol, ele já está murcho o suficiente para enleirar (deixar em leiras). Logo, já se pode dar início ao processo de enfardamento e de embalagem. Todo esse processo pode acontecer no mesmo dia ou no máximo até o dia seguinte ao corte.
O ponto ideal de embalagem é de 50% de umidade, para que o pasto possa fermentar. Indicamos o uso de inoculante para acelerar o processo de fermentação e estabilização da temperatura interna da bola.
É importante salientar que hoje o mercado dispõe de máquinas de alta tecnologia, com alta capacidade de compactação, pois quanto mais prensada a bola, melhor será a conservação interna da forrageira.
Após essa prensagem acontece o envelopamento e essa embalagem é feita com um filme plástico específico, um filme stretch, que tem elasticidade e obrigatoriamente uma boa resistência. Esse filme também deve ter proteção UV, porque ele permanecerá exposto ao tempo, normalmente por muitos meses. Dessa forma, a escolha de um plástico que tenha essas características é um passo muito importante no processo.
Normalmente uma bola de pré-secado pesa uma média de 500 a 600 quilos, dependendo do equipamento com qual ela é feita e seu nível de compactação. Algumas máquinas produzem uma bola do tamanho um pouco menor e outras um pouco maiores. Porém, a mais usada é a bola de 1,20 por 1,20m que tem o peso médio citado acima. Dentro da propriedade, logicamente é importante que se tenha equipamentos adequados para que se possa manusear essas bolas.
No Sul do Brasil são utilizadas varias espécies forrageiras para a produção do pré-secado, as principais são as de clima temperado como o azevém e a aveia, em função de sua alta qualidade, de forma que a maior parte da produção ocorra no período de inverno e início da primavera. No entanto, a produção de pré-secados tem crescido muito no período de verão com a utilização de culturas tropicais, com destaque para as forrageiras do gênero Cynodon, principalmente Tifton e Jiggs.
O pioneirismo nessa produção se deu pelo produtor de leite, que tem que trabalhar com alta estocagem de alimentos, principalmente com o grande crescimento do confinamento das vacas para produção leiteira.
Com o tempo, a produção e utilização dos pré-secados foi se estendendo também para a pecuária de corte, onde sua utilização está em franca expansão, principalmente após as ocorrências de fortes estiagens como a deste ano, que fazem com que o produtor perceba ainda mais a necessidade de se armazenar alimentos.
Em momentos como este, percebemos que produtores que armazenaram alimentos conseguem ter um pouco mais de tranquilidade com relação a aqueles que dependem exclusivamente do campo, que em momentos críticos acabam pagando um preço muito mais alto por qualquer alimento que esteja disponível.
Outra tecnologia importante que merece uma observação é a ensilagem de milho em bolas. Este mercado está iniciando no Brasil e já conta com equipamentos específicos que conseguem fazer este trabalho. O resultado é um produto nobre (silagem de milho), com uma facilidade muito maior no que se refere ao transporte e com um nível de perdas muito inferior quando comparado a um silo convencional.
Por fim, gostaria de mencionar que existe um mercado crescente de prestadores de serviço, que tem proporcionado aos pecuaristas uma maneira muito mais prática para a produção de pré-secados através da terceirização de equipamentos e mão de obra. Por isto, temos confiança no crescimento vertical deste mercado que vem para propor um nível maior de segurança alimentar, assim como uma nova oportunidade de renda dentro das propriedades.
Eloir Daltoé
Técnico Especialista em Pastagens e Diretor da Duagro Soluções Sustentáveis
Representante Barenbrug e Valfilm para o Rio Grande do Sul.